Quando vejo alguns políticos atacando a Ministra Marina Silva, com relação às restrições opostas pelo ministério respectivo, sobretudo com relação à exploração de potássio e petróleo, e a liberação da BR 319, notadamente pelo Dep. Estadual Sinésio Campos e pelos Senadores Omar Aziz e Randolfe Rodrigues (todos políticos por quem tenho admiração), lembro do nosso histórico negativo com relação à exploração de riquezas brasileiras, desde sempre.

Tomemos o recente exemplo do pré-sal, o qual para os brasileiros representaria um novo patamar de desenvolvimento, com investimento pesado em educação e em outros setores estratégicos para o país. Veio a operação lava jato (que na avaliação do Ministro Gilmar Mendes, foi o maior escândalo jurisdicional da história brasileira), e mudou o nosso destino rapidamente: A Petrobrás foi criminalizada e quase sucumbe, assim como a poderosa indústria da Construção Civil brasileira, juntamente com a indústria naval e vários outros segmentos da economia foram massacrados pela tal operação. O sistema de partilha da exploração de petróleo foi modificado para incluir empresas estrangeiras, assim como foram vendidas refinarias, inclusive a do Amazonas (que hoje tem o maior preço de combustível do país). De lambuja, foi vendida a preço vil a Eletrobrás, tal como aconteceu antes com a Vale do Rio Doce em tempos da privataria tucana.

Em todos os locais do Brasil onde houve exploração de toda sorte de bens, por assim dizer, ficou e perdura até hoje um rastro de destruição, sem benefícios significativos para os locais de exploração e para o Brasil. Veja-se o caso de Serra Pelada/Curionópolis/PA, de Macaé/RJ (que era uma cidade linda), da nossa Coari/AM, em todos os locais de exploração de petróleo, ouro e pedras preciosas em Minas Gerais, madeiras do Brasil por completo, sobretudo da Mata Atlântica – toda a riqueza retirada do solo brasileiro foi embora sem trazer benefícios significativos para os locais de extração e para o país, desde sempre. O Amazonas figura hoje com destaque no mapa do desmatamento ilegal, e Roraima está ardendo em chamas até agora.

A lista, está claro, é meramente exemplificativa. Mas, por que temos que repetidamente entregar nossas riquezas e receber os investidores e “empreendedores” com tamanha ingenuidade para enriquecê-los, enriquecer os entregadores locais e acabar com a qualidade de vida das cidades, com o meio ambiente, poluir rios, lagos e igarapés, devastar as florestas, matar e desalojar indígenas, quilombolas e ribeirinhos, sem qualquer investimento em educação, cultura, pesquisa, tecnologia e comodidades urbanas de acessibilidade e conforto?

Aqui em Manaus, por exemplo, a devastação da vida é um preço altíssimo pago pela instalação do nosso parque industrial, com poluição de todos os igarapés e desmatamento totalmente desnecessários, sem investimento compatível em pesquisa, inovação, tecnologia, educação, urbanização e acessibilidade, espaços de contemplação, esporte e lazer. O resultado é uma cidade devastada, cultural, ambiental e geograficamente, com altíssima concentração de renda e favelização generalizada, com alastramento do abandono e empobrecimento pelas cidades do interior, bem como constituição de uma cidade-estado precarizada, violenta e que virou rota do tráfico internacional de drogas.

Diante desse quadro, creio que as preocupações da Ministra Marina Silva são absolutamente pertinentes, e deveriam até ser maiores por conta da fragilização institucional ativada e potencializada desde o golpe jurídico-legislativo-midiático de 2016, além do histórico relativo a minérios, petróleo e gás, madeiras etc. Paralelamente a isso, a estrutura institucional de fiscalização e arrecadação de tributos ainda não alcançou áreas extremamente ricas como a minerária, por exemplo. Além da devastação, não existe ingresso de receita fiscal minimamente compatível.

A realidade atual nos mostra de forma pedagógica que devemos, antes de buscar a exploração desesperada de bens para o alegado desenvolvimento econômico regional e nacional, criar condições de proteção ambiental, social, institucional, fiscal e, sobretudo, política do Brasil, sobretudo da Amazônia, uma vez que, historicamente, a exploração dos recursos naturais é precedida de ataques à democracia, à soberania nacional e ao meio ambiente. Outra coisa não menos importante: a exploração da riqueza nacional deve proporcionar melhoria da qualidade de vida das pessoas de todas as cidades que abrigam os recursos explorados e desenvolvimento do país, com enfrentamento das desigualdades sociais e econômicas e com investimento em pesquisa e educação, pelo menos.

Sem isso, esse desespero é um erro crasso e sinônimo de devastação irracional e estúpida, com vista ao empobrecimento de forma severa e definitiva. Estou com a Marina, nessa questão. E também estou com Celso Furtado que disse que o grande patrimônio das nações no pós-guerra seria o conhecimento. E estou também com Samuel Benchimol que disse o seguinte:

O mundo amazônico deve ser economicamente viável, ecologicamente adequado, politicamente equilibrado e socialmente justo.

É isso, gente da amazônia, não estamos desesperados, sobretudo porque temos agora um governo federal de reconstrução nacional e que tem combatido os lucrativos crimes ambientais; porém, temos um péssimo congresso (que defende majoritariamente o agro pop, a ampliação do garimpo e que milita em desfavor do meio ambiente equilibrado e dos interesses nacionais) e, por conta disso e sempre, em qualquer cenário, temos que manejar os recursos naturais com inteligência e com sabedoria política.

 

 

– Compositor, servidor público estadual, pedagogo e advogado.