Em entrevista, a secretária nacional do PT Mulheres defendeu maior presença feminina para priorizar a saúde menstrual e a equiparação salarial

A pré-candidata a vereadora em Manaus e secretária nacional do PT Mulheres, Anne Moura, defendeu maior presença feminina na política para mudar a realidade nas cidades. A afirmação ocorreu durante entrevista ao vivo nesta sexta-feira (26/07) para o “Ela Podcast”, uma iniciativa do Portal da Mulher Amazônica apresentado pela jornalista Carla Martins. “Precisamos mulherar a política, sem as mulheres nada vai mudar”, disse.

Descendente do povo Mura e nascida na periferia de Manaus, no bairro Coroado, a ativista política percebeu aos 16 anos de idade a exclusão feminina nos espaços de decisão. Na época, ela era a única entre diversos garotos nos movimentos de grêmio estudantil de escolas públicas da capital.

“A maioria quem faz política não são mulheres. Se não tiver mulheres fazendo política pública, lutando por mais maternidade, por saúde menstrual ou combatendo violências, pode ter certeza de que a realidade não vai mudar. Vão prometer mil creches e sabe por que não vai ser realidade? Porque não é uma prioridade para eles (homens)”, afirmou ao Ela Podcast.

Ex-candidata à vice-governadora no pleito geral de 2022, Anne Moura disputou a campanha eleitoral grávida. Na época, sua capacidade de assumir o cargo, caso vencesse as eleições, foi contestada porque teria um filho recém-nascido. Segundo a pré-candidata tais questionamentos não são dirigidos aos homens, assim como perguntas sobre o modo de se vestir ou o status de relacionamento.

“A política não foi feita para nós, a política é machista e misógina. E só vai mudar se houver mais mulheres”, afirmou. O problema, segundo Anne Moura, é cultural. “Não é culpa das mulheres. Quando se trata de nós, querem nos diminuir. Sempre temos que provar o máximo possível. Precisamos ‘mulherizar’ a política, empoderar a mulher na política do Amazonas”.

A primeira vez que mulheres puderam votar e candidatar-se no Brasil foi em 1933, mas somente 30 anos depois, em 1964, a primeira parlamentar mulher tomou posse na Câmara Municipal de Manaus (CMM): Lea Alencar Antony, suplemente de um vereador cassado pela ditadura. Atualmente, existem apenas quatro mulheres vereadoras na CMM para um total de 41 vereadores – são 37 homens.

Anne Moura defende e comemora mais mulheres ocupando cargos de parlamentares em Manaus. “Eu disputo contra homens, não disputo contra mulheres. Fico feliz e desejo sucesso a outras colegas pré-candidatas a vereadora”, afirmou.

Saúde menstrual e equiparação salarial

Durante o bate-papo com Carla Martins, Anne Moura relembrou sobre a luta do movimento de mulheres no Brasil para aprovar no Congresso Nacional a Lei nº 14.214/2021, sancionada pelo presidente Lula e que instituiu a política nacional de saúde menstrual, assegurando a oferta gratuita de absorventes higiênicos e outros cuidados básicos de dignidade menstrual para meninas e mulheres.

“Você precisava ver a cara que os homens faziam quando o tema era discutido no plenário, mas nós mulheres levamos e encaramos tudo de frente. Só foi possível porque havia deputadas lá lutando e é isso que eu quero para Manaus”, disse. A pré-candidata lembrou de já ter sofrido do problema. “Minha avó pegava camisa velha, cortava, higienizava, fervia e dava para gente fazer de absorvente. Isso acomete meninas da periferia, fora a falta de acesso a água e aa saneamento que famílias sofrem”.

Outra medida favorável às mulheres rememorada por Anne Moura durante o Ela Podcast foi a Lei nº 14.611/2023, que garantiu equiparação salarial com os homens. Segundo ela, a legislação sancionada pelo presidente Lula vem sendo questionada judicialmente por empresários homens, que se negam a cumprir a norma.

“A maioria dos empresários são homens e estão recorrendo da lei para que as mulheres não recebam salário igual. Isso é inaceitável, mas devagarzinho vamos mudando a realidade”.

Sobre Anne Moura

Pré-candidata a vereadora de Manaus, Anne Moura é secretária Nacional de Mulheres do PT e coordenadora do Fórum Nacional de Instâncias de Mulheres de Partidos Políticos. Descendente do povo Mura, ela nasceu e cresceu na periferia de Manaus, no bairro Coroado. Com duas décadas de atuação na política, tornou-se aos 26 anos a secretária Nacional de Desenvolvimento Econômico mais jovem do PT.

Foi co-criadora do projeto “Elas por Elas”, participou da construção do Plano de Governo Lula 2022 e, no mesmo ano, foi candidata à vice-governadora do Amazonas, junto do candidato ao Governo, Eduardo Braga (MDB).

Lançou o movimento “Nossa Voz em Manaus”, que tem como objetivo fortalecer a representatividade feminina e de diversas classes sociais na Câmara Municipal, bem como promover políticas públicas que atendam às reais necessidades da população manauara.