Não é incomum o debate que envolve a reflexão sobre a existência da emoção em processos reivindicados pelo pensamento racional. Volta e meia pinta uma urticária acadêmica provocada pela complexidade da construção do pensamento.

Na verdade, essa fragmentação razão/emoção tem seu ápice na modernidade, com a ciência querendo o título de domínio de uma suposta racionalidade instrumental e objetiva.

O pensamento que dominaria a verdade e a colocaria a serviço do desenvolvimento humano foi instrumentalizado para gerar e justificar a dominação de novos impérios e nova classe social. O que era pra libertar, oprimiu dolosamente.

A razão da era moderna foi logo abrindo os braços para uma guerra mundial e para a criação de potências imperialistas dispostas a tudo para ampliar seu alcance. O mundo ocidental fez da nova verdade a sua religião e a ciência passou a se proteger no alpendre da igreja comteana.

Ora, com uma razão instrumental que apenas mudou de sujeitos é inexorável trazer à tona o justo desejo da paixão e de todas emoções capazes de iluminar o ser. A fragmentação razão/emoção não se justifica sem causar constrangimento.

Precisamos desafiar as velhas formas de pensar e abrir espaço para a construção de outros diálogos, capazes de criar novas expectativas de vida.

A emoção não pode ficar sob o manto da irracionalidade, se a razão foi incapaz de recriar o ser humano. É preciso tratar a paixão, o amor, a felicidade, a alegria, como partes intrínsecas do pensamento moderno e de uma nova cosmovisão.

 

Lúcio Carril

Sociólogo