Cristãos, espíritas, membros de religiões de matriz africana, islâmicos pediram ações contra o preconceito à candidata a vereadora pelo PT. Encontro inter-religioso teve participação da deputada federal Benedita da Silva

A candidata a vereadora de Manaus pelo PT Anne Moura vai defender o respeito à diversidade religiosa e o combate à intolerância e ao racismo religioso como uma política pública durante seu mandato na Câmara Municipal. O compromisso com o direito constitucional à liberdade de fé vem sendo assumido por Anne Moura durante reuniões inter-religiosas e visitas a igrejas, centros espirituais e casas de terreiro na capital.

Num desses encontros, a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), que é evangélica e participou da inclusão do termo “liberdade religiosa” na Constituição de 1988, falou da importância de lutar por um estado laico. “A nossa lei maior não é a Bíblia, o Alcorão, é a Constituição. Até 1986, havia apenas uma religião reconhecida no Brasil, a católica. Foi em 1987, na Assembleia Nacional Constituinte que foi escrito a liberdade religiosa”, lembrou.

Segundo Benedita da Silva, que apoia Anne Moura para vereadora em Manaus, político não deve defender apenas uma religião. “A gente não pode medir o direito das pessoas pela religiosidade. Político não tem religião, ele tem uma Constituição. No caso da Anne, vai ser o regimento interno da Câmara Municipal. Se existe no país ações sociais, que antecederam os partidos políticos, isso se chama igrejas. Sem dialogar com os diversos segmentos religiosos não tem condição de fazer política pública e eu sei que a Anne Moura vai ter que ter a compreensão de conversar e reconhecer todas as religiões”, disse.

Mãe Flor de Navê, líder religiosa do Templo de Tambores de Mina Jejê-Nagô Xwê Ná Sin Fifá, recebeu Anne Moura no seu espaço religioso e falou dos ataques às casas de terreiro e do preconceito contra as religiões de matriz africana.

“Só sabe quem passa isso na pele. Você ter o seu sagrado todo destruído e não ter a oportunidade de sair com teu turbante na rua. Pedimos respeito. Nós sabemos o quanto é difícil pegar um aplicativo de transporte vestida com turbante. O preconceito religioso é grande na cidade de Manaus e é importante ter políticas públicas para mulheres e povos de terreiro”, afirmou.

 

O respeito começa na educação

Num cenário onde os casos de intolerância religiosa vem aumentando no Brasil, a Câmara de Manaus não dispõe de leis para garantir o respeito à diversidade de religiões e credos na cidade. Pelo contrário, o parlamento municipal vem aprovando legislações restritivas ao tema.

Membro da comunidade islâmica em Manaus, a pedagoga e ativista dos direitos humanos Rita Al Qamar, enfatizou a necessidade de levar o debate sobre a liberdade religiosa para dentro das escolas e espaços públicos.

“O nosso estado está longe de ser laico. A gente presencia crianças rezando o pai-nosso na entrada das escolas, gestores passando óleo ungido nas portas e nas cabeças das crianças. São violências que não são físicas e explícitas, mas estão ali contra aqueles grupos historicamente minorizados. Nós, pessoas da religião islâmica, somos minoria”, disse Al Qamar. “E aí eu questiono: quais interferências as religiões estão tendo nas políticas educacionais? É na escola, na educação infantil, que a gente se depara com os primeiros estranhamentos. Como vamos ensinar o respeito e o amor pelas pessoas? Não há diversidade religiosa no âmbito escolar”.

Luís Paulo é católico e membro da Paróquia Divino Espírito Santo, localizada no bairro Coroado, Zona Leste de Manaus. Ele também defendeu para a candidata a vereadora Anne Moura mais ações para combater o preconceito religioso e pediu mais amor. “É somente curando. Não importa a religião, o que importa é você respeitar o outro e o que você vai fazer para que tenha o direito de ser respeitado”, lembrou.

Anne contra o preconceito

A defesa pelo respeito à liberdade religiosa e o combate à intolerância fazem parte da base de propostas de Anne Moura para seu mandato na Câmara Municipal de Manaus. A candidata a vereadora defende a aplicação da Lei 10.639/2003, aprovada há mais de 20 anos no Brasil e que obriga o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas do país.

“Eu já caminhei por várias religiões. Sou católica batizada na paróquia do Coroado, mas cresci e passei minha vida inteira, desde a adolescência, na casa da Mãe Nonata (Ialorixá). Tinha a minha avó, que era evangélica e me ensinou muitas coisas que eu sei hoje, além da minha descendência indígena pela parte de pai. O respeito à diversidade religiosa é algo que sempre esteve comigo”, disse Anne.