Eirunepé possui um dos piores Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Amazonas: 0,563 pontos, bem abaixo das médias nacional, estadual e da capital Manaus, que giram em torno de 0,7. Enquanto isso, o prefeito, pelo segundo mandato consecutivo, Raylan Barroso de Alencar mantém uma vida de luxo numa mansão de altíssimo padrão. O gestor público acumula uma extensa lista de investigações por corrupção que vão de enriquecimento ilícito, desvios de recursos da saúde, extração ilegal de madeira até crime eleitoral.

Com uma população de cerca de 33,1 mil habitantes, o município de Eirunepé é mantido no rastro da pobreza. Do total de moradores, somente 6,28% tem ocupação formal (carteira assinada). Os demais trabalham na informalidade ou estão desempregados, conforme os dados do Censo de 2022. Cerca de 51% da população vive com até meio salário-mínimo por mês, o que corresponde a R$ 710,00. Na cidade, falta saneamento básico. Apenas 11,9% das moradias contam com acesso a esgoto. A mortalidade infantil é de 36 óbitos por mil nascidos vivos, quando a média nacional é de 13,2 por mil nascidos vivos. O indicador de Eirunepé é quase três vezes o do país, significa que a mortalidade infantil é uma das maiores do Brasil.

Desde 2017 quando iniciou a primeira gestão, a Polícia Federal, os Ministérios Públicos Estadual (MP-AM), de Contas (MPC-AM) e Federal (MPF), a Defensoria Pública da União (DPU), o Tribunal de Contas do Estado (TCE-AM) e o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) já estiveram na cola de Raylan por variadas suspeitas de crime. Com um salário mensal de R$ 18 mil, o prefeito construiu um império ao seu redor. Ele e sua cúpula passaram a usufruir de forma inexplicável de bens que são incompatíveis com a renda que recebem como gestores públicos.

Mansão de fazer inveja e escândalos

A própria residência de Raylan Barroso, uma mansão de alto padrão que mais parece um resort é avaliada em cerca de R$ 5 milhões. O imóvel luxuoso tem dois andares, um lago artificial na entrada, área verde bem ampla e diversos animais silvestres mantidos de forma ilegal. Na época, em 2019, havia suspeita pelo MPC de que servidores públicos foram usados para trabalhar na obra de construção da super residência. Nas eleições 2016, quando se candidatou pela primeira vez, o prefeito havia declarado R$ 1,4 milhão em bens entre cotas de participação social em empresa, residências e lotes de terra em Eirunepé e Manaus.

A Polícia Federal fez uma operação, em 2021, para investigar organização criminosa que causou prejuízo de R$ 10 milhões por fraudes em licitação, desvios de recursos, corrupção e lavagem de dinheiro na Prefeitura de Eirunepé. A ação, chamada “Cama de Gato”, cumpriu 21 mandados judiciais de busca e apreensão. Com apoio da PF do Acre, os policiais cumpriram a determinação da justiça na casa de Raylan Barroso, seus familiares, outros políticos e servidores públicos. Os esquemas variavam de contratação de empresas fictícias ou de fachada e até compras fraudulentas e dispensas de licitação durante a pandemia da Covid-19, como a aquisição de máscaras de proteção com o dobro valor e quantidade cinco vezes maior que o tamanho da população eirunepeense.

Em 2020, o MPF e a DPU pressionaram Raylan Barroso para corrigir uma série de irregularidades: realização de processo seletivo para agentes comunitários de saúde, entrega de merenda escolar, limpeza de ramais, gestão dos resíduos sólidos de Eirunepé, pagamento de professores indígenas e até a reforma de uma residência de apoio para políticas públicas com povos indígenas.

Dentre os inquéritos civis abertos pelo MP-AM, estão denúncias de enriquecimento ilícito e atos de improbidade administrativa. Numa delas, é averiguado favorecimento em licitações. Havia suspeita de desvio e prejuízos num contrato de R$ 16,3 milhões para asfaltamento com uma construtora com histórico de irregularidades no interior do Amazonas e outra de R$ 2,8 milhões de recuperação de estradas vicinais.

O prefeito de Eirunepé também é investigado por extrair ilegalmente madeira e degradação ambiental. Segundo o MP-AM, Raylan pagou cerca de R$ 21,4 mil para que homens extraíssem mulateiro e maçaranduba para construção de sua casa recreativa na comunidade rural Santa Rita.