O material deixa registrado o legado cultural e os saberes ancestrais das mulheres indígenas do Alto Rio Negro

O primeiro episódio da minissérie Momorõ será lançado neste sábado, 16/11, destacando a troca de experiências durante as oficinas de artesanato e grafismo dos povos Dessana e Tukano, realizadas nos meses de setembro e outubro deste ano. Com quatro episódios de cinco minutos cada, a produção audiovisual será disponibilizada no YouTube do Centro de Medicina Indígena Bahserikowi (CMI), por meio do link http://bit.ly/48TR2wm.

O nome da série, Momorõ, significa “Borboleta” na língua Dessana e foi escolhido pela idealizadora do projeto “Reconstruindo Teias: Arte e tecnologias de cuidado da mulher indígena”, Carla Wisu, para simbolizar a essência do trabalho. Segundo ela, a borboleta carrega um profundo significado, representando “as mulheres que andam juntas”.

Ao longo das oficinas, elas se uniram para compartilhar saberes, vivências e sentimentos, criando um espaço de troca e fortalecimento mútuo.

“Falar sobre povos indígenas é um ato político. Visibilizar essas narrativas em primeira pessoa é urgente. A produção pretende despertar a sociedade para a importância dos temas indígenas, especialmente aqui em Manaus (AM), o estado mais indígena do país”, afirmou ISIS de Manaus, diretora do projeto audiovisual.

“A série vai mostrar que as mulheres indígenas têm um papel fundamental na sociedade, cuidando da terra, do corpo e mantendo um olhar único sobre o mundo. Essas tecnologias de cuidado, tanto para o corpo quanto para a mente, são essenciais”, reitera Carla.

Para ISIS, é uma oportunidade de dar visibilidade a histórias que raramente chegam ao público.

“O objetivo é mostrar como foi o desenvolvimento do projeto, valorizando a cultura dos povos indígenas do Alto Rio Negro. É urgente trazer essas narrativas à tona”, enfatiza.

Troca de saberes

As oficinas contaram com a participação de 20 pessoas selecionadas via inscrição e foram conduzidas pelas instrutoras indígenas, Carla, Thaís Dessano e Janine Dessano, proporcionando um espaço de troca cultural e empoderamento, um dos aspectos mais marcantes das atividades.

“O que me chama a atenção nas falas das mulheres é esse resgate cultural. Elas sempre mencionam parentes que ensinaram algo que, muitas vezes, foi esquecido devido à vida urbana. O projeto deu a elas a chance de reviver esses conhecimentos”, explica ISIS.

Ela acrescenta que a produção Momorõ é uma celebração da resistência cultural e da importância de valorizar as vozes indígenas, que também é uma forma de luta política.

Protagonismo feminino

Com uma equipe majoritariamente composta por mulheres, o projeto é liderado por Carla, Viviane Palandi, produtora executiva, e ISIS, diretora.

O time também contou com a colaboração de mulheres na comunicação, como Vívian Oliveira, assessora de imprensa, Carla Alloyá, social media, e Domi Jaci, pessoa trans não-binária, na captação de imagens.

“É um empoderamento também para nós, mulheres negras, indígenas e LGBTQIAPN+, que conseguimos dialogar e nos fortalecer mutuamente”, pontuou ISIS.

Conhecimento ancestral

Além de documentar as oficinas, Momorõ terá legendas, buscando democratizar o acesso a esse conhecimento ancestral.

O Centro de Medicina Indígena, o primeiro do Brasil, tem sido uma referência em Manaus, promovendo a valorização dos saberes tradicionais.

O documentário se soma a esses esforços, funcionando como um registro histórico que poderá ser utilizado em espaços educativos e culturais no futuro.

Parcerias e apoio ao projeto

O projeto “Reconstruindo Teias” é uma colaboração entre o CMI, Pedra de Fogo Produções, Instituto de Pesquisa Tabihuni e o Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS/UFAM).

A iniciativa é financiada pelo Edital N° 03/2023 da Lei Paulo Gustavo e conta com o apoio da Secretaria de Estado de Cultura (SEC-AM), Governo do Estado do Amazonas e Governo Federal.

ISIS enfatiza que a parceria é um exemplo da força da união entre diferentes grupos para alcançar objetivos comuns.

“Ver mulheres indígenas e negras dialogando e se ajudando é a prova de que essas causas podem ser visibilizadas de forma colaborativa e transformadora”, conclui.

O primeiro episódio da minissérie promete abrir um espaço de reflexão sobre a importância das culturas indígenas e sua preservação no contexto urbano.

 

 

FOTOS: Divulgação