Viver é muito bom, porém o tempo é implacável.

Não que ele se domine. Não há um passo contínuo ou uma correnteza num fluxo linear. Entre curvas e quedas, pode haver um reencontro de distâncias em polos diferentes.

Tudo parece igual, mas não é. No tempo só há diferença e, às vezes, uma falsa ilusão de que a história se repete. Mera ilusão, pois “ninguém se banha duas vezes no mesmo rio”.

O tempo pode ser dominado. A história é feita por indivíduos. Seus fluxos e refluxos são determinados. Mas nem tudo é coletivo.

Há o tempo da vida. Quanto mais tempo de vida você tem, mais o tempo se torna implacável. Viver é bom e cruel. Com o tempo, mágoas e dores se acumulam. A experiência também. Todos interagem nos sentidos. Todos dialogam de espírito para espírito.

Com o tempo, há tantas perdas. O amigo que se foi da vida ou que se foi ainda em vida. O amor que se perdeu nas mudanças do tempo e virou cinza numa manhã cinzenta.

Quantas dores acumulamos no tempo da vida. Quantos amores guardamos na alma. Quantas lágrimas ainda cairão enquanto vida tivermos. Entre fluxos e refluxos, amamos e choramos, sentimos saudade de quem se foi e comemoramos por quem não se aproximou.

Viver é uma luta repleta de contradições. Mas como seria infame a vida num fluxo contínuo, como a roda de um moinho de vento, que não se desloca no tempo, apesar de fazer jorrar água.

Seria tudo muito chato.

A vida precisa desse enlace contraditório entre ser boa e ser cruel. As perdas são choradas e as conquistas são comemoradas, nem sempre na mesma sequência. Às vezes, se entrelaçam e ninguém sabe mais para que servem as lágrimas e os risos.

Como é bom estar vivo. Como é triste o sofrimento que fica na memória. Não acredito no sofrimento que ensina. O ser humano tem que aprender no amor. Aí todos poderão pular de alegria e fazer da vida um caminhar compassado por entre nuvens e constelações.

Lúcio Carril 

Sociólogo

 

Foto: FREEPIK