O Piauí viveu um período de profunda transformação social nas últimas duas décadas, impulsionado por programas sociais, como o Bolsa Família, que completou 20 anos em 2023. É o que mostra o estudo “Mapeamento dos índices de desenvolvimento social”, desenvolvido pelo pesquisador Antônio Claret. A pesquisa será lançada na íntegra no dia 21 de maio, em Teresina (PI). Mas, na prévia disponibilizada, já é possível ver a mudança.
Segundo Claret, a melhora no índice é resultado de uma combinação de fatores e de políticas que tiveram um papel muito relevante no Piauí. “Podemos citar múltiplos atores: atores sociais, atores empresariais, os investimentos feitos no estado”, afirmou.
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado, que mede o bem-estar da população, passou de 0,48 em 2000 para 0,71 em 2020, um crescimento de 48%. Esse avanço coloca o Piauí na faixa de desenvolvimento humano “alto”, segundo a classificação do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
A pesquisa é fruto de um acordo de cooperação internacional entre o Governo do Estado do Piauí e o programa das Nações Unidas para o desenvolvimento (PNUD). “A perspectiva é mostrar aos outros países os avanços que nós tivemos no Piauí, para que as políticas públicas de sucesso que foram adotadas no Brasil e no estado possam servir de referência para outros países em patamares semelhantes de desenvolvimento humano.” explica Claret.
Renda: crescimento e redução da desigualdade
O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), a participação do estado no PIB nacional e a redução da desigualdade de renda foram fatores determinantes para o aumento do IDH. A renda média do piauiense, medida pelo PIB per capita, cresceu 64% entre 2002 e 2022, reduzindo a diferença entre a média nacional e a do estado.
Claret explica que, no período, ocorreu a universalização de programas de transferência de renda, como o Bolsa família, o que foi determinante também no estado. “Nesses 25 anos, o aumento da cobertura de programas como o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e do Bolsa Família foi importante para esse processo de enfrentamento da pobreza e de avanço do desenvolvimento humano”, avaliou.
Primeiro município brasileiro a receber o Fome Zero, em 2003, Guaribas (PI) é um exemplo emblemático do impacto positivo dessas iniciativas. Irineu Maia, foi um dos moradores da cidade que teve a sua vida transformada. Em 2001, aos 43 anos, mudou-se para São Paulo em busca de melhores condições de vida e deixar para trás o trabalho na roça. “Na época a situação era muito triste”, lembra. Foi na época que o Lula ganhou que as coisas começaram a mudar”, relembrou.
Antes de ir para São Paulo, Maia andava de jumento pela cidade. Ainda em terras paulistas, os conterrâneos começaram a relatar as transformações que a cidade vinha vivendo. Ao perceber quer os conterrâneos estavam em situação melhor na cidade natal, o piauiense decidiu fazer o caminho de volta.
Irineu voltou para Guaribas em 2006 e casou-se. Ele conta que, com os programas sociais, a vida prosperou e ele pôde montar um pequeno negócio, porque havia público para consumir. Empreendedor nato, já teve na cidade uma loja de roupas, uma churrascaria e hoje possui um hotel. Pensava que nunca veria sequer asfalto na cidade e hoje tem uma caminhonete Hilux na garagem. Para o futuro, sonha com os estudos dos filhos “falo para eles: estudem, estudem. No meu tempo não tinha como”, aconselhou.
Outro indicativo de melhora é o Índice de Gini. O indicador que mede a concentração de renda, caiu de 0,61, em 2010, para 0,52 em 2021, indicando uma distribuição mais justa da riqueza. A pobreza também recuou consideravelmente: o percentual da população em situação de pobreza e extrema pobreza caiu 70% entre 2000 e 2013.
Educação: avanços em todos os níveis
O Piauí também obteve resultados expressivos na área da educação. O analfabetismo caiu pela metade entre 2000 e 2021, enquanto a taxa de conclusão do Ensino Fundamental pela população adulta mais que dobrou. O estado lidera o ranking nacional de crianças na escola desde 2019, com 97% das crianças de 5 a 6 anos frequentando as salas de aula.
O desempenho dos estudantes também melhorou. Prova disso é que o estado ultrapassou a média da região Nordeste nos anos iniciais do ensino fundamental, e está acima das projeções do Ministério da Educação. Nos anos finais do Ensino Fundamental, a nota geral do estado também supera a média regional e acompanha as projeções oficiais.
Guilherme Pereira Rocha tem 29 anos e também viveu a transformação no estado. Quando criança, na escola em que estudava, todos os professores vinham de fora. Hoje, ele é um dos professores da instituição. “Eu sou fruto daquilo que foi plantado em Guaribas, das ações que foram realizadas há quase 20 anos atrás”. Pereira sempre estudou no ensino público e lembra que as instituições não serviam nem merenda para os alunos. “Sempre foi um desafio para mim estudar, nunca foi fácil”, lembra.
Quando terminou o ensino médio, prestou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e conseguiu uma bolsa para estudar Gestão Comercial em Osasco (SP). Voltou para Guaribas e cursou a segunda faculdade, Educação no Campo, com ênfase em Ciências Sociais, no campus da Universidade Federal criado na cidade.
Saúde: progresso com desafios
A expectativa de vida no Piauí cresceu seis anos entre 2000 e 2010, mas ficou estagnada nos anos seguintes. Com a pandemia de Covid-19, o indicador recuou 2,5 anos. A mortalidade infantil seguiu a mesma tendência: apresentou queda de 58% entre 2000 e 2019, mas voltou a subir no mesmo período.
O pesquisador Antônio Claret aponta que a Estratégia de Saúde da Família, que leva a atenção básica, acompanhamento nutricional, vacinação e acompanhamento pré-natal a mulheres, foi uma política revolucionária. “No início dos anos 2000, já tínhamos essa política sendo implementada, mas a criação das Unidades Básicas de Saúde, das equipes multiprofissionais, baseadas em território, fizeram a expansão desse programa acontecer. Isso é um exemplo de política pública que dá e que deu certo, e que a gente pode mostrar ao mundo como um exemplo a ser seguido”, ressaltou.
Perspectivas para o futuro
“Aqui estou eu e não vou parar por aqui. Porque acredito que vai muito além. Tá pouco. Ainda preciso crescer mais”. A frase é da moradora Nonata Alves Rocha, que se formou na primeira turma de Administração de Empresas ministrada em Guaribas, e hoje trabalha no seu próprio negócio na cidade.
Assessoria de Comunicação – MDS
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