Acordo nesta segunda-feira com a trágica notícia da morte de uma mulher grávida, vítima de acidente bde moto numa das principais avenidas de Manaus. Seu marido, o condutor, perdeu o equilíbrio do veículo após passar por um buraco. Morreu a mãe e o beber, prestes a nascer.
Infelizmente, não se trata de um caso isolado.
Manaus virou um caos em acidente envolvendo motociclistas. Em 2024, das 309 mortes no trânsito, 158 foram motociclistas, segundo o Instituto Municipal de Mobilidade Urbana (IMMU). Um aumento de 32% em relação ao ano anterior.
O Departamento Estadual de Trânsito do Amazonas (DETRAN-m) anunciou que em abril deste ano Manaus atingiu
1.004.021 veículos registrados. Desse total, 455.608 são automóveis e 337.464 são motocicletas. São 2,27 habitantes por veículos. No ano 2000, eram 8,3 Hab./Veic.
Esses números revelam a dimensão de um caos no trânsito de Manaus quando sabemos que apenas 2% da frota são para transporte coletivo e 93% são para transporte privado, que atende a menor parte da população.
Com um sistema de transporte público deficitário, que nunca melhora, aumentou o número de motos fazendo esse serviço, mas também aumentou o número de acidentes. Entre 2020 e 2024, foram 1.228 mortes de motociclistas em todo o estado, o que representou 54% dos óbitos por acidentes terrestres no Amazonas. Desse total, 60,9% foram em Manaus.
É certo que houve um crescimento de acidentes com vítimas fatais no trânsito em todo o país, segundo o Atlas da Violência do IPEA, divulgado este ano. Em 2023, foi registrado um aumento de 2,5% em relação ao ano anterior. Já especificamente com acidentes envolvendo motocicletas, a alta foi de 12,5%. O Amazonas ficou em 5ª posição, com 57,3% dos óbitos causados por acidentes envolvendo motocicletas.
E os custos para o país e para a sociedade?
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em países com renda como a do Brasil, os custos com acidentes de trânsito podem variar entre 3% a 5% do PIB. Somente com internações de motociclistas, as despesas do SUS ultrapassaram 2,4 bilhões de reais entre 2014 e 2024.
Entre os meses de janeiro e novembro de 2024, o custo com as internações de motociclistas acidentados no SUS foi de R$ 233,3 milhões. Foram 148.797 motociclistas internados no sistema de saúde público, em decorrência de acidentes em todo o Brasil.
O custo médio de um paciente acidentado para o SUS é em torno de 60 mil reais/mês, incluindo internações, cirurgias e reabilitação.
Estamos falando de um problema de profunda gravidade social. Tanto os acidentes que deixam as vítimas sequeladas como as mortes afetam milhares de familias. A Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) calcula que para cada paciente hospitalizado, outras quatros pessoas são impactadas.
E os buracos do prefeito?
Como se não bastasse o sistema caótico de transporte coletivo com uma das maiores tarifas do país, o sistema viário de Manaus não suporta tanto veículos. O crescimento da cidade não foi planejado e os gestores que passaram pela prefeitura sequer sabem o que é planejamento. Há um acúmulo de estupidez e descaso.
Manaus terá este ano um orçamento de 10,5 bilhões de reais. Somam-se a esse valor, os mais de 4 bilhões de empréstimos feitos pela gestão do atual prefeito. É dinheiro saindo pelo ralo. Pelo ralo mesmo, porque não tem dado nem para tapar os buracos das principais vias da capital, o que tem provocando aumento dos acidentes, principalmente com motocicletas. Acidentes com vítimas fatais e muita gente internada nos hospitais públicos.
São quase 15 bilhões de reais para execução neste ano, considerando orçamento e empréstimos. Como que Manaus continua um caos no transporte coletivo, nas vias de trânsito, com calçadas quebradas, faltando remédios nos postos de saúde, etc.? Não há explicação plausível.
Em relação ao trânsito, principalmente sobre o transporte de motocicletas, a prefeitura de Manaus precisa elaborar uma política para tratar do problema. Não dá pra ficar fazendo de conta que está tudo bem, enquanto pessoas morrem ou ficam por meses hospitalizadas, outras tantas com sequelas pelo resto da vida.
É preciso reunir com empresas que usam o serviço de entrega com motos e elaborar um plano para melhorar a educação de trânsito dos condutores. É preciso criar um plano de melhoria das vias de Manaus, sem embromação e mentiras. É preciso inserir no currículo das escolas da Semed a educação no trânsito. Essas escolas atendem crianças e nelas é possível criar uma cidade mais cidadã, com respeito ao outro.
Na Espanha foi feito isso e houve uma redução de 60% dos acidentes. São medidas a médio e longo prazos, planejadas, mas necessárias. É fundamental o olhar para a educação das novas gerações.
É preciso fazer muitas coisas, inclusive uma gestão pública mais responsável e humana. Manaus agradece.
Lúcio Carril – Sociólogo
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