Estamos acostumados a ver e tratar o preconceito na sua restrita e explícita ação. É homofóbica a manifestação grosseira. É misógina e/ou machista as ações criminosas e opressivas e no preconceito racial nos indignamos com o discurso e a prática da Casa Grande.

Mas o preconceito existe de forma mais profunda e estruturada. Ele elimina o outro, seja através da imposição da sua verdade, pelo desejo de se sentir superior ou pelo interesse de poder. O preconceituoso é autoritário e o preconceito está entranhado no tecido social.

O preconceito está presente no cientista que se acha o dono da verdade e que vê na sua verdade uma verdade superior às demais verdades do mundo. Ele, o preconceito, é escroto e não é um desvio que afeta apenas os ignorantes.

Ele é um instrumento de poder.

O preconceito é opressivo e não é uma ação espontânea. Ele é uma ideologia construída, uma forma e um conteúdo que buscam a imposição pela desqualificação do outro.

Ninguém nasce racista, homofóbico ou misógino. Isso tudo é construído e pode se manifestar de várias maneiras. Não se trata de uma prática esporádica, mas de uma conduta. Às vezes, o indivíduo nem sabe que está sendo preconceituoso, mas está. Ele nem sabe que está sendo racista, mas está. É estrutural.

O preconceito não deve ser combatido apenas com a punição legal. Ele deve ser enfrentado nas escolas, nas famílias e em toda sociedade como uma vergonha para a humanidade e para qualquer ser humano. É preciso mostrar como ele se manifesta e oprime.

O preconceito é uma ideologia e não somente um desvio de caráter.

O machista é um preconceituoso que envergonha a condição humana. O homofóbico também, mas por vezes é um traumatizado que reprime sua sexualidade. O machista pode ser um homem que tem inveja da feminilidade da sua companheira e a discrimina por isso.

Eles foram ensinados a reprimir suas pulsões e essa autorrepressão vira opressão ao outro.

Tem muita coisa por trás do preconceito e do preconceituoso. O combate a essa conduta deve se dar na autorreflexão, na busca por se libertar da maldade construída por quem quer manter a humanidade na mesquinharia.

Mesmo o preconceito se tratando de construção ideológica da classe dominante, imposta à classe dominada, ele não pode ser combatido apenas no campo objetivo.

No diálogo com a subjetividade, o indivíduo pode se reconstruir como ser sensível, terno e humano, sem se deixar oprimir pela espada infame da subjugação e da humilhação.

Lúcio Carril – Sociólogo

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