Corpos em movimento, emoção à flor da pele e a certeza de que algo novo começou a pulsar em Manaus.
Foi assim que se deu a imersão “A Expressão Corporal da Africanidade na Amazônia”, realizada nos dias 19 e 20 de julho, no Ilê Asé Sesu Toyan (Cidade de Deus), sob condução da coreógrafa baiana Tati Campêlo e realização da produtora cultural Inã Figueiredo.
A atividade reuniu 28 participantes de diferentes áreas, como dança, teatro, jornalismo, cinema e educação física, vindos de diversos bairros da capital, entre eles, São Raimundo, Japiim, Betânia, Compensa e Centro.
Ao longo de dois dias intensos, os participantes mergulharam em práticas corporais afro-brasileiras, rodas de conversa e partilhas sobre identidade, ancestralidade e pertencimento.
“Foi um reencontro comigo mesma, espiritual e corporal”, disse Juliana Oliveira, bailarina e professora.
“Já tinha anos que não dançava afro, e essa vivência me trouxe uma energia renovada, além do contato com uma história cultural que pulsa no corpo. O local, uma casa de santo, também tem uma energia incrível, que potencializou o meu processo. Estou saindo daqui mais conectada com minha essência e com vontade de compartilhar essa força com outras pessoas”, garantiu Juliana.
Segundo a produtora e idealizadora do projeto, Inã Figueiredo, a iniciativa nasceu da necessidade urgente de unir formação artística com pautas raciais na Amazônia.
“Manaus quase não oferece dança afro como modalidade, e sentimos essa lacuna. Essa oficina foi uma sementinha que plantamos, com muito cuidado, para que germinem novos caminhos. A dança afro-brasileira devolve à gente o corpo como território de memória, resistência e alegria. Além disso, há uma potência de resgate ancestral e identidade que precisa ser vivida e compartilhada. Acredito que o que foi iniciado aqui tem o potencial de ampliar o cenário artístico local, fortalecendo não só os profissionais, mas toda uma rede cultural”, afirmou.
Inã destacou ainda o impacto transformador do curso para os participantes.
“Muitos me procuraram para agradecer por essa experiência que tocou não só o lado artístico, mas também pessoal e histórico. A expectativa é que essa vivência inspire novas formações e que esse movimento cresça, mesmo sabendo das dificuldades, especialmente financeiras, para ampliar e manter ações como essa”, disse.
Para a coreógrafa e facilitadora Tati Campêlo, que veio de Salvador para a experiência em Manaus, a vivência foi muito além de um simples intercâmbio.
“Senti corpos disponíveis, querendo se reconectar com sua ancestralidade. Me senti acolhida em um verdadeiro aquilombamento, um espaço coletivo de força e afeto. Trazer a dança afro-brasileira para a Amazônia é devolver uma história que foi interrompida. O corpo negro aqui precisa ser escutado, ritmado e respeitado. É uma responsabilidade e um compromisso criar espaços para que ele possa vibrar suas memórias de forma autêntica e potente”, pontuou Tati.
“Estou muito grata e emocionada em ver essa receptividade, essa energia que pulsa aqui. Volto para a Bahia com muito mais axé do que quando cheguei, fortalecida para continuar essa missão de espalhar essa linguagem que vive no meu corpo e no meu trabalho”, complementou.
A proposta agora é transformar a oficina em um curso continuado, dependendo de recursos para viabilização.
A iniciativa marca o início de um movimento para fortalecer as expressões afro-amazônidas por meio da arte e do corpo, criando pontes entre ancestralidade, cultura e contemporaneidade.
“A Expressão Corporal da Africanidade na Amazônia” foi contemplado no Edital Macro de Chamamento Público N° 002/2024 da Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult).