O apoio de parte dos brasileiros residentes em Portugal ao partido Chega, revela uma dinâmica clássica dos processos migratórios: a construção simbólica de hierarquias entre imigrantes. Ao aderirem a um discurso xenófobo, voltado especialmente contra sul-asiáticos, esses brasileiros se posicionam como imigrantes “desejáveis”, em contraste com os que consideram “indesejáveis”. Trata-se de uma tentativa de diferenciação social num contexto em que todos são, de fato, estrangeiros.
Esse comportamento se insere numa lógica mais ampla de assimilação aspiracional. Ao adotar os valores e as pautas da extrema-direita portuguesa, esses brasileiros buscam se aproximar do grupo dominante, acreditando que isso lhes garantirá status, segurança e pertencimento. É um fenômeno conhecido na sociologia da migração: a adoção de atitudes excludentes por parte de grupos que também enfrentam exclusão.
O paradoxo é evidente. Brasileiros, historicamente marcados pela experiência da migração econômica e pela marginalização racial e cultural na Europa, reproduzem discursos e práticas que negam aos outros o mesmo direito de mobilidade e dignidade que um dia reivindicaram para si. Lá como cá, o medo da perda de lugar social alimenta fronteiras simbólicas que, ao fim, também os cercam.
Adilson Vieira – Sociólogo.
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