O que significa o show da Madonna no Rio de Janeiro? Uma expressão genuína de amor livre, empoderamento e crítica social?
Acreditar que Itaú, Heineken e os governos do Rio pagaram milhões a Madonna para cumprir alguma função humanitária na América Latina é o tipo de ingenuidade esquerdista que o imperialismo adora alimentar com somas suntuosas do tamanho de nosso caos social e político.
Em poucos lugares do mundo os bancos gozam de tanta naturalidade na percepção social como no Brasil. Sempre na vanguarda da opressão nacional, esta burguesia parasita que domina a política a ferro e fogo também sabe seduzir os incautos com produções e propagandas milionárias.
Sua força está na adesão sorrateira e farsesca a pautas de lutas contra as opressões. Eis aí uma demonstração do que hoje se chama de identitarismo. Trata-se de uma política de propaganda da burguesia imperialista através da cooptação de pautas esquerdistas. A integração de lideranças políticas dentro da sociedade burguesa favorece a criação deste esquerdismo falso e distante de qualquer possibilidade de libertação nacional.
Porém, o doce sorriso esconde o real interesse. A campanha que traz Madonna ao Brasil visa na verdade esconder a política de demissões de trabalhadores do banco Itaú. O maior banco da América Latina, apoiador do golpe de 64, tem dispensado milhares de trabalhadores nos últimos anos.
Em Outubro de 2023, Madonna manifestou seu apoio público a Israel assinando a carta de artistas hollywoodianos em agradecimento a Biden. Em show realizado na sua Celebration Tour no início do ano, Madonna recebeu no palco a comediante e famosa sionista Amy Schumer.
Portanto, que fique bem claro, Madonna já se posicionou a favor do sionismo nos conflitos recentes demonstrando bem explicitamente o lado escolhido. Este lado é o do Imperialismo e da política colonial de Netanyahu. Valeu lembrar que o empresário da cantora, Guy Oseary, também é abertamente apoiador do sionismo.
O show realizado ontem em Copacabana, longe de ter sido um ato contra a extrema-direita, revela-se como uma peça ardilosa de propaganda sionista. De um lado Madonna distrai os bobos alegres com o discurso de “empoderamento”, de outro ela passa pano para Israel e sua carnificina contra mais de 30 mil mulheres e crianças. Assim, percebe-se como o identitarismo não se opõe à extrema direita e sim a compõe como um reforço ao sionismo. Itaú e neopentecostalismo estão na mesma frente em defesa do sionismo israelense e sua brutalidade costumeira.
Esse sionismo esquerdista no meio artístico ocidental é uma desgraça para as mulheres periféricas do mundo. Mas afinal, qual esquerdismo hoje no mundo não lambe as botas do imperialismo?
▪︎ Bernardo Mesquita – Militante da Organização Comunista Internacionalista