Encerrou nesse domingo passado o Festival de Parintins, uma expressão artística e cultural no meio da floresta amazônica, criado e desenvolvido pelo povo caboclo da ilha e incorporado por uma massa de brincantes e admiradores do folclore popular.
O festival é único no mundo, porque mergulha na ancestralidade dos povos da floresta, buscando representar suas lendas, mitos e lutas. É uma ópera a céu aberto, como no antigo teatro grego. Mas na sua arena passam histórias de resistência dos muitos povos que viveram na Amazônia e outros que até hoje vivem.
Depois que o Boi de Parintins ganhou fama nacional, alguns personagem contrastante da festa passaram a ser vistos no bumbódromo. São visitantes ilustres do festival, uma cambada de gente declaradamente inimiga do meio ambiente. Essa horda chega na festa como estrela, autoridade, e torce pelos bois, que encenam a beleza e a história dos povos que aqui moram e resistem.
Adormece nossa indignação. Não houve, e não há, manifestação contra os facínoras que projetam destruir a Amazônia. Eles chegam impunes na ilha, como se o brado da cultura popular e o clamor por justiça nos enredos dos Bois não os tivessem como alvos.
Vira tudo uma grande farsa, quando essa corja é recebida com a hospitalidade que temos pela gente de bem que nos visita. Farsa porque não se trata de gente de bem. São inimigos da vida e de tudo que ela produz de belo na natureza.
A festa é bonita. A mensagem da festa é clara, profunda e forte. O Festival de Parintins é um grito da Amazônia pelo respeito aos povos que nela habitam. Seus inimigos desrespeitam nossa gente quando chegam nos seus jatinhos, bebem, transam e sorriem enquanto planejam a destruição de tudo que existe aqui como patrimônio natural.
Não chegam em aviões. Surgem nos seus zepelins gigantes, como na música de Chico Buarque. Eles vêm, se lambuzam a noite inteira e partem impunemente.
O Festival de Parintins é uma manifestação folclórica de resistência cultural da Amazônia. Não é picadeiro de político pilantra, que vota no congresso nacional contra o meio ambiente e os povos indígenas. É muita cara de pau essa corja aparecer na nossa festa. São penetras indesejáveis.
Escrevo com a indignação de um caboclo. Vi figuras nefastas chegando em Parintins e sendo comemoradas. Sei que o Festival é para todos que apreciam a cultura popular, mas não posso deixar de protestar contra os que zombam da nossa luta com suas presenças sórdidas.
O Boi de Parintins é um grito da Amazônia contra a destruição da floresta e a dizimação dos seus povos. Os inimigos da natureza não são bem-vindos. Eles que procurem outras freguesias.
Lúcio Carril – Sociólogo